22 março 2013


Discurso em análise : sujeito sentido e ideologia
                                                     

As considerações iniciais do livro da autora Eni Orlandi levam-nos à reflexão no que diz respeito à grande virada que acompanha os estudos da análise do discurso, desde as correntes fundamentadas por Michel Pêcheux às novas abordagens que surgiram com o alargamento da exploração de seus princípios básicos. O sentido, o sujeito e a ideologia são seus principais referentes na relação político-teórica que se discute.

Para a autora, à luz de Pêcheux, no Brasil, a ditadura militar, considerando o panorama nacional e a produção discursiva do regime militar, criou grande resistência política, através de reivindicações que acabaram por definir uma crise na educação, responsável pela criação de um discurso dominante, o que levou à necessidade de desvirar os discursos. Assim, a análise do discurso se firma a partir da conjuntura política nacional do regime militar, marcado pelo discurso da mundialização. Ser estruturalista no Brasil, neste período (anos 60/70) era resistir aos princípios irracionais da ditadura.

Em meio à virada, Eni orlandi posiciona-se a favor da ideia de que o discurso é o próprio objeto da análise do discurso, sendo que na conjuntura política atual, considera-se a generalização do discurso, o que aponta para o cuidado que se deve ter com a sua não generalização. Ela critica a maneira como os fabuladores tratam o trabalho de arquivo, chamando a atenção para a importância de se colocar no lugar teórico da AD, o que seria, de acordo com o texto, trabalhar no entremeio.

Observa-se um destaque, por parte da autora, quanto à necessidade de se fazer ciência do discurso, estabelecendo uma relação entre teoria, método, procedimentos e objeto. Na formação discursiva, ela traz como cerne fundador da análise do discurso, a relação entre língua e ideologia, ao praticar uma definição de discurso , que é a de Pêcheux: o discurso é efeito de sentidos entre locutores.

Em relação à virada, ela cita a necessidade de se trabalhar sobre as materialidades discursivas, a partir de M. Pêcheux, em que a língua é entendida não como um sistema, mas como real específico do desdobramento das discursividades, observando, portanto, seus desdobramentos contraditórios.

Ao relacionar linguagem e mundo, Orlandi considera a materialidade da linguagem como mediadora entre o sujeito e a realidade. Na constituição de sujeitos e de sentidos, a ideologia tem o seu papel de determinação. Sobre um último aspecto, consideramos os mecanismos de paráfrase e de metáfora, que ela conceitua como deslizamento de sentidos, já que não há um controle sobre o modo de como a ideologia funciona. Na abordagem da educação em direitos humanos, ainda à luz de Pêcheux, Orlandi resgata a importância da responsabilidade, implícita nas questões éticas e políticas que estão presentes no mundo capitalista e na formação do sujeito ético e político.

                                     Marília Mendes


Referência bibliográfica:
ORLANDI, E. Discurso em análise: sujeito, sentido, ideologia. Campinas: Pontes, 2012.

POSLIN – ÁREA DE LINGUÍSTICA APLICADA-FALE/UFMG
Contribuições da perspectiva discursivo-psicanalítica na formação de professores de línguas- Março de 2013